No passado, costumava-se dizer que para administrar uma organização, fosse ela pública ou privada, era contar com um pouco de sorte e decidir, usando um mínimo de bom senso. De lá para cá, o empirismo e a intuição foram dando lugar a métodos e processos, cada vez mais sofisticados, na gestão dos negócios e das próprias organizações. Em especial nas últimas décadas, a maioria das instituições – querendo ou não – teve que se adequar aos novos conceitos e às práticas modernas, no campo da administração. Para tanto, as empresas e os órgãos públicos passaram a utilizar o planejamento como ferramenta essencial e imprescindível nos processos de tomada de decisão.
O planejamento pode ser entendido, de forma simplificada, como a aplicação de um conjunto de técnicas que racionalizam o uso dos recursos – humanos, materiais e financeiros – e otimizam os resultados esperados. O planejamento é uma ferramenta administrativa, que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturar o trâmite adequado, permitindo a definição das ações mais apropriadas para a elaboração dos projetos.
Na iniciativa privada, boa parte das empresas que resistiram à implantação dessas novas técnicas acabou por fechar as suas portas. No setor público, o conservadorismo foi, quase sempre, o grande responsável pela perda de identidade ou pela extinção de vários órgãos. Em alguns casos, a falta de uma visão sistêmica e holística das instituições criou um verdadeiro caos organizacional ou um vazio institucional, com sobreposição de atividades e diluição de responsabilidades.
A situação do sistema aéreo nacional é um bom exemplo disso. Com muitos órgãos opinando e nenhum fiscalizando, com muita gente discutindo e nada sendo decidido, com muita autoridade mandando e ninguém obedecendo, só podia dar no que deu.
Nos últimos meses, os dois piores acidentes aéreos já ocorridos em território nacional ceifaram centenas de vidas e chamaram a atenção de toda a sociedade para a triste situação da aviação civil e da infra-estrutura aeronáutica brasileira.
A falta de planejamento e de organização fez com que tivéssemos aeroportos com excesso de tráfego aéreo, operando com pessoal insuficiente ou mal preparado e utilizando equipamentos inadequados.
Por outro lado, há vários aeródromos mal localizados e pouco utilizados, com instalações ociosas e usando instrumentos de última geração.
No que se refere à malha aérea nacional, ou seja, o conjunto de linhas existentes para atender à demanda de vôos, a situação também não é diferente. A malha foi definida muito mais para atender aos interesses das empresas de aviação do que a necessidade de deslocamento dos usuários.
Mas, a falta de um plano de ação, a ausência de noção de prioridade e bem pouco discernimento podem levar a situações esdrúxulas, para dizer o mínimo. Quando não se sabe o quê e como decidir, decide-se pelo que primeiro aparece.
Nesse momento, com tanta coisa séria por fazer e com tanta decisão importante para se tomar, há quem fique discutindo a distância entre os bancos das aeronaves ou o tamanho das letras e o tipo de mensagem veiculada nos painéis de comunicação das salas de embarque. O problema não está na importância desses itens para o conforto do viajante, e sim, na oportunidade e relevância que eles têm, vis-à-vis às questões relacionadas à regularidade e pontualidade dos vôos e à segurança dos aeroportos e das aeronaves.
Que se tire proveito do descaso e da incompetência demonstrados até hoje é até compreensível. Porém, é intolerável achar que a sociedade deve abdicar de seu senso crítico ou que as pessoas devem acreditar que os problemas se resolvem com rompantes e arroubos.
Há um ditado que diz: “Quando a situação é crítica, é preciso planejar em pleno vôo”. No caso em tela, seria muito desejável que as autoridades responsáveis estivessem a bordo do avião utilizado para elaborar o planejamento do sistema aéreo brasileiro.
Autor: Francisco Christovam