Comprometendo o futuro
Não é nenhum segredo que a engenharia brasileira vive seu pior momento. Pior, no entanto é saber que, se medidas extremas não forem tomadas, não é possível ser otimista sobre a melhora desta situação.
Vivemos um problema conjuntural, perdemos uma geração de engenheiros para o mercado financeiro, graças aos 25 anos de crise e falta de investimentos do governo, e estamos perdendo outra para a aposentadoria. Mas nada poderia ser pior do que perder uma terceira geração pela má formação universitária.
É claro que existem no Brasil grandes universidades, com cursos de excelência comprovada, mas graças à política de reconhecimento de cursos do Ministério da
Educação e a inércia de Conselhos e Associações, cursos de engenharia com menos de quatro mil horas de aulas estão se tornando mais comuns do que a prudência e as boas práticas recomendam.
Também não se pode ignorar a enormidade de especializações reconhecidas pelos CREA’s. Formam-se engenheiros de telecomunicações, minas, automotivos entre uma centena de derivações dos cursos de Engenharia Civil, Mecânica, Elétrica, Química, Arquitetura e Agronomia. As matérias tornaram-se cursos completos para cobrir nichos de mercado.
O Brasil, nas últimas décadas, perdeu muitas oportunidades de desenvolvimento por falta de coragem ou visão de seus líderes. Assistiu passivo o despertar de nações que investiram na formação de seus cidadãos, enquanto modelos e investimentos passados eram abandonados por pura divergência política.
Hoje, com a velocidade propiciada pela tecnologia, as mudanças acontecem quase instantaneamente. Corremos o sério risco de perder mais esta chance por falta de profissionais qualificados, passando de produtor de conhecimento e tecnologia a mero importador de serviços técnicos.
É preciso intervir no processo de formação dos engenheiros, criando, como faz a OAB, um processo de classificação e seleção dos cursos e dos profissionais formados. Usando as leis de mercado para impedir a proliferação de Escolas e Faculdades inferiores, promovendo aquelas com grau de excelência reconhecido.
É preciso conscientizar empresas e contratantes que o custo de um mau engenheiro não se resume ao montante pago em salários ou por serviços realizados. Um mau projeto pode custar vidas, requerer manutenção ou readequação, comprometendo todo o investimento realizado. O desempenho do piloto Rubens Barrichello com o carro da equipe Honda são um excelente exemplo de mau projeto.
É preciso retardar a aposentadoria de engenheiros experientes e impedir a “juniorização” dos departamentos e empresas de engenharia por questões de custos.
Exigindo também a atualização contínua por meio de cursos, estágios, visitas técnicas, intercâmbios e etc.
É preciso incentivar o compartilhamento do conhecimento técnico entre profissionais e empresas, criando uma malha que facilite a pesquisa, desenvolvimento e distribuição deste conhecimento da universidade para os profissionais e dos canteiros de obras, escritórios de projeto e fábricas para estudantes e professores.
Enfim é hora da engenharia ser retomada e Reconstruída pelos engenheiros, pois as autoridades estão empenhadas em levar-nos de volta ao Brasil agrícola do passado, priorizando seu novo Ciclo da cana-de-açúcar.
Autor: Edemar de Souza Amorim