A suspensão do rodízio de veículos no último período de férias escolares não se mostrou viável, mas permitiu uma avaliação bem oportuna e realista sobre as atuais condições do trânsito na cidade. São Paulo não dispõe de um sistema de transporte coletivo eficiente, possui um índice de mobilidade de 2,2 viagens/dia por habitante e uma das maiores frotas urbanas do mundo.
Em outubro de 1997, com base na Lei Municipal Nº 12.490, foi instituído no Município de São Paulo, o Programa de Restrição ao Trânsito de Veículos Automotores. O principal objetivo do rodízio veicular era, e continua sendo, retirar das ruas e avenidas do centro expandido, nos dias úteis e nos horários de pico, 20% do volume de veículos em circulação.
Apesar de bastante criticada e, nos últimos tempos, bem menos eficiente do que já foi no passado, essa medida ainda garante uma certa condição de fluidez ao saturado e conturbado trânsito da cidade. Isso ficou perfeitamente claro quando o rodízio de veículos foi suspenso, em um mês de férias escolares, por conta de uma possível redução do número de carros que saem às ruas para o transporte de estudantes.
O resultado foi bem pior do que se esperava. Os paulistanos enfrentaram os maiores congestionamentos já vistos e chegou-se à conclusão de que o sistema viário de São Paulo não comporta a quantidade de veículos que deseja utilizá-lo. Infelizmente, a cidade não vive mais sem essa medida operacional e, em breve, terá que adotar outras ações restritivas para poder gerenciar a necessidade de deslocamento de sua população.
O número de veículos registrados na cidade é de quase 6 milhões e, a cada dia, cerca de 600 novos carros são incorporados à frota existente. É muito carro para tão pouco espaço.
Em São Paulo, são realizadas mais de 15,5 milhões de viagens motorizadas por dia, das quais cerca de 53% são feitas no modo individual. Isso mostra o quanto é preciso investir em transporte coletivo – metrô, trem e ônibus – para alterar, de maneira gradativa, uma divisão modal que torna a movimentação do paulistano tão complexa e onerosa.
Dentre as propostas mais estudadas para aumentar a capacidade do sistema viário cabe destacar a implantação do pedágio urbano, a proibição de estacionamento no sistema viário principal ou, pelo menos, em vias por onde circulam os ônibus e o aumento do percentual de veículos que deve ser incluído na operação rodízio, nos dias úteis e nos horários de pico.
Mas, apesar dos incontestáveis ganhos de eficiência previstos para o sistema viário, sem a construção de grandes obras e com a adoção de medidas operacionais, as críticas não são poucas. Quanto ao pedágio urbano, há quem o considere discriminatório e elitista. Proibir estacionamento em vias de grande circulação é medida rejeitada pelos comerciantes instalados nas áreas atingidas e ampliar a abrangência do rodízio pode até levar as famílias à aquisição de um carro adicional.
Assim, a melhoria das condições de deslocamento da população de São Paulo passa, inevitavelmente, pelo aumento da oferta de transporte coletivo e da qualidade dos serviços prestados, bem como pela adoção de medidas ainda mais restritivas ao uso do transporte individual. Nem é preciso mencionar que restringir o uso do automóvel sempre desagrada uma parcela significativa da nossa sociedade.
Autor: Francisco Christovam