Também, para se ter uma boa saúde precisamos respeitar os preceitos de qualidade, obediência às normas e os princípios de manutenção.
Como engenheiros, sabemos construir grandes edifícios, pontes e barragens, mas não sabemos construir bem o nosso corpo.
Não damos a devida atenção às nossas estruturas de sustentação ou não cuidamos de nossa rede hidráulica. Descuidamos de nossa bomba de recalque e sobrecarregamos nossos equipamentos em geral.
Estudamos e cuidamos de instalações elétricas, de usinas geradoras às redes domiciliares, mas esquecemos de cuidar de nosso sistema nervoso, submetendo-o a altas sobrecargas.
Desenvolvemos sofisticados sistemas de transporte e movimentação de cargas, mas negligenciamos com nosso próprio sistema, carregando nossas pernas com sobrepesos excessivos.
Calculamos a capacidade de carga das fundações e estabelecemos limites às tensões de compressão, mas esquecemos que, ao andarmos, todo nosso peso se concentra em menos de 2 cm² do osso do calcanhar. No caso de obesidade, a tensão pode superar 75k/cm². Isso repercute em toda nossa estrutura.
Não dispensamos os aditivos no concreto para seu melhor desempenho.
Colocamos complementos na preparação do aço de nossas estruturas, para melhorar sua resistência, flexibilidade e duração, mas não nos protegemos com os corretos nutrientes, que nos protegerão contra os ataques ambientais e poluidores da vida moderna. Influenciados pelas propagandas, introduzimos substâncias inadequadas ao funcionamento de nosso organismo.
Protegemos a madeira contra umidade e cupins. Sabemos como adequar o aço com características antioxidantes, mas não nos preocupamos com a oxidação de nossos radicais livres. Descuidamos dos sais minerais e vitaminas e negligenciamos com as gorduras, carboidratos e açucares
Nos processos em que existam peneiras vibratórias para separação de componentes, cuidamos da limpeza para garantirmos o correto fluxo e seleção, mas não cuidamos da limpeza de nossos intestinos, órgão responsável pela permeação dos nutrientes que alimentarão nossas células.
Evitamos e controlamos a fadiga das peças estruturais em movimento em nossas pontes e equipamentos, mas menosprezamos a fadiga provocada pelo estresse. Quem sofre são os neurônios que vão se destruindo.
Sabemos que nossos automóveis ou equipamentos de obras, quando parados por muito tempo, necessitam ser acionados para não emperrarem. Nós passamos 80% do dia sentados ou deitados.
Sabemos que, se a betoneira não se mover corretamente, o concreto sai com defeito. E nós deixamos os exercícios físicos para “amanhã”. Os equipamentos que mais utilizamos são a cadeira ou a cama.
Denunciamos a poluição ambiental e defendemos a preservação dos mananciais, mas negligenciamos a poluição de nosso corpo, pois comemos e bebemos errado, respiramos errado e até nosso necessário lazer é feito de forma estressada.
Não atendemos os conselhos preventivos sobre a correta alimentação, mas somos obedientes aos encantos de outdoors e das coloridas propagandas das revistas e televisões.
Em resumo: como em nossas obras, a boa Engenharia da Vida nos leva a uma obra de qualidade, duradoura e resistente.
O tripé é alimentação correta, exercícios físicos adequados e redução e controle do estresse.
Infelizmente muitos de nós vivemos a cultura do curar ou remediar. Quando o importante é prevenir e evitar.
Paulo Alcides Andrade é engenheiro e associado do Instituto de Engenharia
Autor: Paulo Alcides Andrade