Para um crescimento sustentado do PIB, é indispensável que o suprimento energético esteja garantido. Segurança energética e preços razoáveis são premissas básicas das quais, nenhum país, em qualquer foro abre mão e muito menos o Brasil poderá fazê-lo, para poder superar os problemas que tolhem o seu desenvolvimento como a pobreza, o êxodo rural (em poucas décadas mais de 80% da população será urbana), a favelização das metrópoles, a falta de saneamento básico, educação, saúde e o aumento da violência, que são ameaças crescentes a toldar o futuro da nação.
A energia hidrelétrica é a vocação natural do Brasil e se constitui na grande reserva de energia renovável e competitiva do país, mas só será efetiva se as usinas puderem ser operadas com fatores normais de capacidade, utilizando seus reservatórios de regulação que hoje estão sendo esterilizados em usinas a fio d’água. Baixos fatores de capacidade aliados a altos custos de mitigação ambiental e de transporte de energia tornarão as hidrelétricas menos competitivas e mais carentes de complementação térmica, obrigando a que se busquem soluções não renováveis como a nuclear, mais poluentes como o carvão e o petróleo, menos competitivas como a eólica ou dependentes do exterior, como o gás natural.
A eficiência energética é vital, mas não pode substituir muita capacidade de geração, e as projeções da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) já incorporam uma parcela desses ganhos, bem como o uso de outras fontes renováveis embora os atuais programas de incentivos à eficiência (Procel) e fontes alternativas – PCH, eólicas, biomassa – (Proinfa) tenham atingido apenas cerca de 25% das metas programadas por problemas ambientais e questões tarifárias ou regulatórias. No tocante à racionalização do transporte de energia, as perdas maiores não se concentram na transmissão que é moderna, mas na distribuição, em que algumas empresas ainda exibem elevados valores de desperdício por problemas de falta de investimentos, deficiências nas medições e ligações clandestinas, cuja eliminação, ainda em curso, pode agregar mais receitas que economias de energia nova.
A queima de combustíveis fósseis joga na atmosfera mundial, anualmente, 25 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), ou seja, aproximadamente 800 toneladas por segundo, e isto tem levado à retomada da energia nuclear, a única não renovável que não emite os gases do efeito estufa e é hoje reconhecida como uma fonte limpa e segura de energia, com uma experiência de mais de 12.000 anos/reator durante as últimas 5 décadas em todo o mundo. O preço da eletricidade de origem nuclear é considerado competitivo com outras fontes fósseis, especialmente se forem computados os custos ambientais e, em relação às energias renováveis, suas vantagens, além da logística e custo favorável de abastecimento do pequeno volume de combustível, decorrem do alto fator de capacidade (acima de 90%) com que são operadas as usinas nucleares. No Brasil, a experiência satisfatória e sem acidentes, acumulada em mais de 20 anos de operação dos reatores (em 2006 foi a segunda maior fonte se suprimento de eletricidade) e, tomando em consideração as reservas de urânio existentes, o domínio do ciclo de produção do combustível e o grande mercado externo que se abre para ele são fatores que apontam para a ampliação do uso da energia nuclear no país como complemento da energia hidráulica e como compensação de sua sazonalidade.
Miracyr Assis Marcato é Diretor de Relações Internacionais do Instituto de Engenharia e da empresa de consultoria em energia Energo Engenharia e Serviços Ltda.
Autor: Miracyr Assis Marcato