Ainda sob os holofotes da Operação Navalha, é necessário e urgente que algumas considerações sejam feitas, antes de se escolher o bode expiatório da vez.
O fato de o escândalo girar em torno de uma empreiteira de obras públicas, nada tem a ver com a engenharia nacional. A engenharia é a técnica, é a solução de um problema, são os materiais empregados, enfim é a ciência que permite um trem transportar passageiros trinta metros abaixo do solo, uma ponte ser construída a uma altura superior a prédio de 100 andares ou uma barragem armazenar bilhões de metros cúbicos de água, gerando energia, empregos e desenvolvimento.
Corrupção, desvios de verbas públicas, pagamento de propinas, licitações dirigidas e obras fantasmas ou desnecessárias, é caso de polícia, é crime, é falta de caráter, mas não é engenharia.
Mas no Brasil de hoje os valores foram invertidos. Vemos a indignação e a presteza dos especialistas de plantão quando um projeto de alto risco como um túnel apresenta um acidente. Vemos a agilidade de alguns integrantes do Ministério Público ao denunciar “crimes de desabamento” antes mesmo do resgate das vítimas.
Porém, quando o assunto envolve políticos, juízes e seus advogados, a indignação, tardia, diga-se de passagem, se volta contra a polícia e seus métodos “truculentos” de investigar e prender, como se o grampo telefônico fosse a causa do crime.
Ora, o detalhe da Gautama ser uma construtora não pode ensejar manchetes denunciando uma pretensa “República das Empreiteiras”, pois seria o mesmo que imaginar um “Império dos Bancos” capitaneado pelos famosos Marka e FonteCindan, denegrindo instituições sérias e mais representativas. As grandes empreiteiras brasileiras são empresas transnacionais, sua atuação no exterior chega a superar as operações no Brasil, apresentando alto desempenho em projetos de enorme complexidade técnica, não podendo ser comparadas a empresas aventureiras cujo objeto social é sangrar os cofres públicos, sem nenhuma obra de destaque em seus poucos anos de existência.
O maior problema deste país é submeter a engenharia à má gestão pública. Iniciando licitações públicas sem projetos completos e detalhados, incentivando processos de contratação que premiam o serviço de baixa qualidade, permitindo a empresas desqualificadas participar de processos licitatórios.
O Judiciário, na figura do TCU, também é responsável, pois empresas contestadas pelo Tribunal por irregularidades em contratos, não são impedidas de assinar novos contratos que trarão novos problemas, ficando na ativa por anos a fio, cometendo toda sorte de crimes contra a sociedade e o país.
Agora, na pressa de responder à sociedade, os membros do Congresso Nacional, como sempre fazem, apresentarão toda sorte de projetos anticorrupção, defenderão rotinas mais duras e burocráticas – como se construir uma ponte desnecessária por um preço baixo atenuasse a irrelevância da obra. Esquecem assim que ao Brasil não faltam leis.
Faltam pessoas dispostas a cumprir e fazer com que estas leis sejam cumpridas.
Autor: Edemar de Souza Amorim