A indústria naval brasileira teve um papel fundamental na década de 70. Chegou a ocupar o segundo lugar no ranking mundial. Mas entrou em crise, que perdurou até o final da década de 90, momento em que foi assinada a Lei do Petróleo, permitindo qualquer empresa, independentemente da origem de seu capital, realizar atividades de exploração, produção, transporte, refino, importação e exportação do petróleo.
Aliado a isto, em 2006, a Transpetro, braço logístico da Petrobras, decidiu renovar a frota de navios e repassar aos construtores brasileiros as encomendas antes feitas aos estrangeiros. Houve licitação para a construção de 42 navios, passo inicial para o ressurgimento da indústria naval.
Destes, dez serão feitos no Complexo Industrial e Portuário de Suape (40 quilômetros de Recife), em um novo e moderno estaleiro, que está sendo construído pelo consórcio formado pelas empresas Camargo Corrêa (49,5%), Queiroz Galvão (49,5%) e Aker Promar (1%), tendo como parceira tecnológica a Samsung – gigante coreana e uma das líderes da indústria naval.
Até o momento, foram investidos, na obra do Estaleiro Atlântico Sul, R$ 10 milhões, com capital próprio, pois, apesar de já aprovada, espera-se a liberação de recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). O investimento total é de R$ 670 milhões.
Em uma área de 78 hectares, com capacidade de 100 mil toneladas ano, a maior do Hemisfério Sul, a previsão de implantação é de dois anos, contando a partir de abril de 2007. O processamento de aço deve ser realizado a partir do 16º mês, oito meses antes da inauguração do estaleiro, pois é necessário que a produção de aço dê vazão às embarcações de sua primeira encomenda: navios petroleiros Suezmax, cada um com 145,8 mil toneladas de porte bruto (TPB). O valor deste contrato é de US$ 1,209 bilhão.
Está prevista a geração de dois mil empregos diretos na etapa de construção e, posteriormente, na etapa de operação, serão abertos cinco mil postos de trabalho diretos, dos quais entre 20 e 30 destes serão engenheiros de todas as especialidades, além de mais 50, após a finalização do estaleiro.
Empregos indiretos serão 20 mil.
Para o diretor de implantação, Edílson Rocha Dias, esta obra é de grande importância. “Representa muito para a engenharia naval, pois estamos retomando a construção de navios no Brasil, além de movimentar a economia local, pois o estaleiro é uma indústria com capacidade para atrair muitos atores”.
O fornecimento de todos os componentes será terceirizado, como também os serviços de caldeiraria, fundição e usinagem. A lista inclui de fabricantes de tintas especiais, componentes elétricos, produtos eletrônicos, móveis, cozinhas industriais para navios, softwares e uma extensa lista de outros insumos e prestadores de serviços, incluindo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Modelo – Os navios produzidos para a Transpetro serão de casco duplo, seguindo os padrões tecnológicos mais modernos do setor. Os Suezmax são petroleiros para o transporte de óleo cru ou de outros produtos, com dimensões máximas que permitam a passagem pelo Canal de Suez. A capacidade de varia entre 150 mil e 175 mil tpb (toneladas de porte bruto) e deverão ter como características: comprimento em torno de 275 metros; boca em torno de 48 metros; calado de projeto máximo de 17 metros e cerca de 165 mil tpb, correspondente a 1,050 milhões de barris.
Parceiros – A prioridade é ter como integrantes da cadeia, empresas nacionais, que podem ter parcerias tecnológicas ou de outras áreas, com players estrangeiros. Mas os motores, as caldeiras e as bombas das embarcações serão importados, pois não são fabricados no Brasil.
As que queiram se agregar ao cluster naval não precisam utilizar a tecnologia Samsung, mas devem seguir as normas internacionais, procurando as entidades certificadoras para auditorias e reconhecimento da qualidade dos produtos.
Outro detalhe é que devem estar instaladas em Pernambuco, já que o Programa de Desenvolvimento da Indústria Naval e de Mecânica Pesada Associada do Estado de Pernambuco (Prodinpe) isenta da cobrança do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não apenas o estaleiro, mas toda a sua cadeia de produção. O Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) vai atuar na capacitação.
Um interlocutor importante com a indústria local é o Sindicato da Indústria Metal-mecânica de Pernambuco (Simmepe). A instituição é presidida pelo ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Alexandre Valença, um dos maiores negociadores para que o empreendimento se instalasse no Estado.
São Paulo – A estratégia do Estaleiro, da Promimp e do Simmepe é capacitar parceiros em outros Estados para se associar às empresas locais. Serão realizados “road shows” pelo Brasil. O primeiro Estado a ser visitado é São Paulo, onde, até o final de maio, haverá uma apresentação do Estaleiro, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o objetivo de prospectar fornecedores e prestadores.
P-57 – O consórcio também se qualificou para a construção da plataforma P-57, da Petrobras. Foi realizado desde o business plan para operação tanto do ship building como da off shore. “Saindo a P-57, os projetos para o Estaleiro ficam duplicados”, comentou Edílson.
Autor: Viviane Nunes