Tenho boas e perturbadoras novas: os cientistas da idade média tinham razão, o mundo é plano.
Até a década de 70 era preciso agendar uma chamada telefônica interurbana com muita antecedência. Caso a família não fosse abonada o bastante para que a casa tivesse acesso a uma linha telefônica, a alternativa era o correio.
Hoje, de um computador conectado à internet, fala-se com o mundo inteiro, instantaneamente, por no máximo 5 centavos o minuto.
A maioria dos participantes ativos dos eventos do Instituto de Engenharia não se dá ao trabalho de vir ao auditório. Conectam-se ao website do Instituto de Engenharia confortavelmente de suas casas, de seus escritórios ou de uma cafeteria comum num país qualquer, e participam ativamente, fazendo perguntas e sendo respondidos pelo palestrante.
Em qualquer TV à Cabo, a engenharia virou entretenimento. Pontes, viadutos, mega edifícios ou grandes desastres concorrem com comédias, filmes e shows em pé de igualdade.
Na corrida por notícias, as grandes redes perdem para uma legião de indivíduos munidos de celulares e conexões de banda larga. Seus blogs, flogs, podcasts, You Tubes e Wiki’s são mais ágeis, mais abrangentes, mais profundos, mais precisos e, principalmente, totalmente incontroláveis.
Garantem assim, cobertura jornalística local de qualidade e profundidade, impossíveis num horário nobre ou numa publicação de alcance nacional.
A informação que conhecíamos não é mais a mesma, perdeu o direito autoral, o controle e a forma. Porém ganhou velocidade, abrangência e vida. A informação retida viu seu valor virar pó e o conhecimento, hoje, precisa ser compartilhado para continuar valendo alguma coisa. A música compartilhada na rede, que faz a gravadora perder dinheiro, lota os shows do artista vendendo mais ingressos e mais produtos de licenciamento.
A Internet agora ganhou vida, uma segunda vida, onde se navega literalmente, onde os websites viraram imóveis e sua página tem formato de um prédio.
O Second-Life, ambiente virtual com 5 milhões de participantes, movimentando algumas centenas de milhões de dólares por mês já atrai grandes corporações como Nokia, General Motors, Adidas e muitas mais estão a caminho.
O mundo real também não é fácil. No Brasil completamos 22 anos sem grandes obras.
O país entra em 2007 com a mesma infra-estrutura de 1985 e parece querer seguir com ela, desafiando a lógica e buscando o crescimento a qualquer custo, sem sequer preparar-se para ele.
O atual governo anuncia seu grande plano de investimentos, onde o maior problema não é a disponibilidade financeira. Pois a dura verdade é não haver profissionais capacitados para gerenciar os projetos pretendidos. Chegamos à absurda situação onde um engenheiro tem mais perspectivas de trabalho nas mesas de operações de um grande banco, do que nos canteiros de obras, escritórios de projetos ou fábricas espalhados pelo país.
Resumindo temos a grata tarefa de reerguer a engenharia brasileira, trabalhando em conjunto com Associações, Clubes, Federações, Grupos, Institutos, Sindicatos entre outros num esforço nunca antes necessário no Brasil.
Esta gestão terá de trabalhar na capitalização da popularidade do Discovery Channel, transformando os jovens telespectadores impressionados em matrículas nos cursos de engenharia das Universidades Brasileiras.
Teremos de lutar contra a mediocridade da maioria dos cursos de engenharia, contra a banalização da contratação de serviços e projetos, para o estabelecimento de critérios de qualidade e intensificação da fiscalização.
Teremos de trabalhar para nos adaptar a um mundo formado por redes, onde não há a distinção entre consumidor e produtor, pois a empresa que vende seus produtos pela internet, também através dela compra seus insumos e suprimentos. Onde o profissional que oferece um curso à distância, também participa de um treinamento de uma empresa.
Enfim, é chegada a hora de repensar o papel de instituições como a nossa, passando de representante de categoria à articuladora de debates, de depósito de informações à construtora de conhecimento, de entidade isolada à lider do movimento de criação de um país melhor.
Agora é hora de construir um novo Instituto de Engenharia. Uma nova instituição, moderna, atualizada, abrangente, inclusiva e atuante.
Autor: Edemar de Souza Amorim